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Uratai Branco (M. C. Ceifeiros da Meia Noite)
Se você viveu tanto quanto eu e pilotou uma moto carburada, vai lembrar daquela torneirinha, do lado esquerdo, embaixo do tanque. Quando o combustível estava acabando, era girar a torneira para cima e seguir no modo reserva. Geralmente uns dois litros na CG 125, que permitiam chegar num posto e abastecer. Na CB 400 parece que eram cinco litros. Só não podia esquecer a torneira na reserva depois de abastecer! Senão era pane seca! Ah, e parando a moto, fechar a torneira para que, se o carburador travasse, o combustível não derramasse todo no chão.
A injeção eletrônica surgiu nos automóveis muito antes das motos no Brasil, pela década de 1980, elas só por 2005.
Está bem, posso errar nas datas. Mas lembro que foi uma revolução. Hoje é difícil ver algumas carburadas com as torneirinhas, há inclusive algumas injetadas clássicas que simulam o corpo do carburador, a alimentar a nostalgia, como a Triumph Thruxton 900, ano 2014.
Nem sempre as motos atuais têm um marcador de combustível muito confiável. Na minha Honda NC 750 dava pra confiar. Mas a distração fez-me ficar sem combustível em uma via de movimento. “Abasteço depois”, pensei. E esqueci.
Só se percebe o quanto pesa uma moto de média ou alta cilindrada quando temos que empurrar. Capacete no braço ou no espelho retrovisor, corpo na lateral da moto, mãos no guidão e perna levando pancada do estribo. E aquele pensamento, enquanto alguns carros passavam buzinando para avisar que você está atrapalhando: ligo para alguém ajudar ou empurro?
Eu sabia que o próximo posto estava a cerca de 2 quilômetros. Não era muito, se a moto estivesse andando, como quando fura o pneu e empurramos a moto funcionando. Desligadas, é como puxar o arado no lugar do cavalo! Também dava para ir buscar a gasolina, mas no lugar não tinha onde encostar a moto. Optei por empurrar, mesmo.
Foi quando um irmão numa 160, aparentemente de trabalho, encostou ao lado e perguntou se era combustível. Respondi que sim. “Quer que eu empurre?” Claro! Emparelhou a moto e com o pé direito calçou o estribo do garupa e começou a movimentar as motos. Nesse equilibrismo, levou-me até o posto. Chegando lá, perguntou: “Tem dinheiro para abastecer?”
Disse que sim, obrigado, Despediu-se rápido, seguindo viagem.
Foi como um soco no estômago vazio.
Ser irmão no motociclismo, e ser cristão, é isso:
Se um irmão ou irmã estiver necessitando de roupas e do alimento de cada dia e um de vocês lhe disser: “Vá em paz, aqueça-se e alimente-se até satisfazer-se”,
sem porém lhe dar nada, de que adianta isso? (Tiago 3.15,16 NVI)
Aquele homem na moto não julgou ao me ver empurrando a moto. Fosse um invejoso, pensaria: “Bem feito pra ele! Comprou a grandona? Empurra aí, papai!”, e risos dentro do capacete. Como muitos companheiros de moto que passaram por mim devem ter pensado. Fiquei admirado de que, sendo a moto dele bem mais modesta que a minha, parou seu trabalho, onde o tempo vale ouro e não bastando, ainda perguntou se eu tinha o vil metal para abastecer!
O que nos difere de outros, não são os pensamentos ou o conhecimento. São as atitudes.
E você, pararia para ajudar? Posso chamá-lo de irmão?
Bora rodar!
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